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Produção Científica

Produção Científica

  1. Educational note: teaching and training in robotic surgery. An opinion of the Minimally Invasive and Robotic Surgery Committee of the Brazilian College of Surgeons - REVISTA DO COLÉGIO BRASILEIRO DE CIRURGIÕES (ONLINE) - 2020
     
  2. Impact of COVID-19 Outbreak on the Emergency Presentation of Acute Appendicitis - AMERICAN SURGEON - Periódico: AMERICAN SURGEON ISSN: 0003-1348 Fator de Impacto(2019 JCR): 0,5250 - 2020
     
  3. Minimally Invasive Surgery in the Management of Blunt and Penetrating Abdominal Injuries: Two-decade Experience from a Brazilian Trauma Center - Panamerican Journal of Trauma, Critical Care & Emergency Surgery - 2020
     
  4. Overview and perspectives about the robotic surgical certification process in Brazil: the new statement and a national web-survey - REVISTA DO COLÉGIO BRASILEIRO DE CIRURGIÕES (ONLINE) - 2020
     
  5. The difficult crossroads of decisions at COVID-19: how can the deontology implicit in Evidence-Based Medicine help us to understand the different attitudes of doctors at this time? - REVISTA DO COLÉGIO BRASILEIRO DE CIRURGIÕES (ONLINE) - 2020
     
  6. The hidden side of the coronavirus tragedy - Clique para acessar o artigo - REVISTA DO COLÉGIO BRASILEIRO DE CIRURGIÕES (ONLINE) - 2020
     
  7. Orientações da Sociedade Brasileira de Hérnia (SBH) para o manejo das hérnias inguinocrurais em adultos. - REVISTA DO COLÉGIO BRASILEIRO DE CIRURGIÕES (ONLINE) - 2019
     
  8. Current status of residency training in laparoscopic surgery in Brazil: a critical review Clique para acessar o artigo - ABCD. ARQUIVOS BRASILEIROS DE CIRURGIA DIGESTIVA - 2015
     
  9. Effectiveness of a reusable low-cost balloon trocar dissection device in the creation of preperitoneal space during endoscopic surgery. An experimental study in swine - ACTA CIRURGICA BRASILEIRA - Periódico: ACTA CIRURGICA BRASILEIRA ISSN: 0102-8650 Fator de Impacto(2019 JCR): 0,9740 - 2015
     
  10. Hernia Incisional - REVISTA DO COLÉGIO BRASILEIRO DE CIRURGIÕES (IMPRESSO) - 2015
     
  11. Inguinal Hernia: Lap vs Open - HERNIA - Periódico: HERNIA ISSN: 1265-4906 Fator de Impacto(2019 JCR): 2,7680 - 2015
     
  12. Avaliação da Eficácia de um Dispositivo Trocarter Balão Dissector Reutilizável para Dissecção do Espaço Pré-Peritoneal em Cirurgia Vídeo-Endoscópica
    Estudo Experimental em Suínos - abdominal wall Repair Journal - 2014
     
  13. História das Hérnias da Região Inguino-Crural: a evolução do tratamento cirúrgico. Do mito a laparoscopia - Abdominal Wall Repair Journal - 2014
     
  14. Video-Assisted Surgery Implementation in the Public Health System of a Developing Country - WORLD JOURNAL OF SURGERY - Periódico: WORLD JOURNAL OF SURGERY ISSN: 0364-2313 Fator de Impacto(2019 JCR): 2,2340 - 2014
     
  15. Alternativas de acesso ao espaço pré-peritoneal na hernioplastia inguinal video-endoscópica totalmente extra-peritoneal - Abdominal Wall Repair Journal - 2012
     
  16. Alternativas Técnicas Heterodoxas na Hernioplastia Inguinal Vídeo-Endoscópica - BRAZILIAN JOURNAL OF VIDEOENDOSCOPIC SURGERY (IMPRESSO) - 2010
     
  17. Apendicectomia Videolaparoscópica Minimamente Invasiva - BRAZILIAN JOURNAL OF VIDEOENDOSCOPIC SURGERY (IMPRESSO) - 2010
     
  18. Experience in Organizing a "Videosurgery Fishbowl" for Training Endoscopic Surgery at the 2007 and 2009 Congresses of the Brazilian Society of Endoscopic Surgery (SOBRACIL) - BRAZILIAN JOURNAL OF VIDEOENDOSCOPIC SURGERY (IMPRESSO) - 2010
     
  19. Experiência Inicial com a Colecistectomia Minilaparoscópica e Midilaparoscópica: Técnica e Resultados em 29 casos - BRAZILIAN JOURNAL OF VIDEOENDOSCOPIC SURGERY (IMPRESSO) - 2010
     
  20. Laparoscopic Incisional Hernioplasty - BRAZILIAN JOURNAL OF VIDEOENDOSCOPIC SURGERY (IMPRESSO) - 2010
     
  21. alternativas técnicas heterodoxas na hernioplastia inguinal videolaparoscópica - BRAZILIAN JOURNAL OF VIDEOENDOSCOPIC SURGERY (IMPRESSO) - 2009
     
  22. Experiência inicial de desenvolvimento de modelo experimental para aplicação do NOTES - BRAZILIAN JOURNAL OF VIDEOENDOSCOPIC SURGERY (IMPRESSO) - 2009
     
  23. hernioplastia incisional por videolaparoscopia-série de casos de um serviço publico-privado em Porto Alegre - BRAZILIAN JOURNAL OF VIDEOENDOSCOPIC SURGERY (IMPRESSO) - 2009
     
  24. hernioplastia vídeo endoscópica: técnica extra-peritoneal-série de casos de um serviço público-privado em Porto Alegre - BRAZILIAN JOURNAL OF VIDEOENDOSCOPIC SURGERY (IMPRESSO) - 2009
     
  25. o uso da videolaparoscopia no manejo do paciente vítima de trauma - BRAZILIAN JOURNAL OF VIDEOENDOSCOPIC SURGERY (IMPRESSO) - 2009
     
  26. Conceitos & Estado da Arte da Videocirurgia - REVISTA DE SAÚDE - 2007
     
  27. No Fascículo 2 de 2005 da Revista Brasileira de Videocirurgia - Revista Brasileira de Videocirurgia - 2005
     
  28. Videolaparoscopia no Trauma Abdominal Contuso - Revista Brasileira de Videocirurgia - 2005
     
  29. Alternative Techniques in Laparoscopic Inguinal Hernioplasty - SURGICAL LAPAROSCOPY ENDOSCOPY & PERCUTANEOUS TECHNIQUES - Periódico: SURGICAL LAPAROSCOPY ENDOSCOPY & PERCUTANEOUS TECHNIQUES ISSN: 1530-4515 Fator de Impacto(2019 JCR): 1,3820 - 2004
     
  30. Aspectos atuais do ensino de videocirurgia no Brasil - Produção Relevante - Revista Brasileira de Videocirurgia - 2004
     
  31. Considerações sobre a Videolaparoscopia em Pacientes com Traumatismo Cranioencefálico - Produção Relevante - Revista Brasileira de Videocirurgia - 2004
     
  32. Laparoscopic Incisional Abdominal Hernioplasty - SURGICAL LAPAROSCOPY ENDOSCOPY & PERCUTANEOUS TECHNIQUES - Periódico: SURGICAL LAPAROSCOPY ENDOSCOPY & PERCUTANEOUS TECHNIQUES ISSN: 1530-4515 Fator de Impacto(2019 JCR): 1,3820 - 2004
     
  33. Laparoscopic Treatment of Choledocholithiasis - SURGICAL LAPAROSCOPY ENDOSCOPY & PERCUTANEOUS TECHNIQUES - Periódico: SURGICAL LAPAROSCOPY ENDOSCOPY & PERCUTANEOUS TECHNIQUES ISSN: 1530-4515 Fator de Impacto(2019 JCR): 1,3820 - 2004
     
  34. Laparoscopy in Abdominal Trauma -Experience of Porto Alegre Hospital, Rio Grande Do Sul, Brazil - SURGICAL LAPAROSCOPY ENDOSCOPY & PERCUTANEOUS TECHNIQUES   Periódico: SURGICAL LAPAROSCOPY ENDOSCOPY & PERCUTANEOUS TECHNIQUES ISSN: 1530-4515 Fator de Impacto(2019 JCR): 1,3820 - 2004
     
  35. CURSO DE EXTENSÃO EM CIRURGIA VIDEOLAPAROSCÓPICA - UMA PROPOSTA DE ENSINO - Produção Relevante - Revista Brasileira de Videocirurgia - 2000
     
  36. Dois anos de experiência na correção de contornos de tecidos moles com Micropartículas sólidas injetáveis-bioplastia - Revista da Sociedade - Brasileira de Cirurgia Plástica - 1995
     
  37. USO DE MICROPARTÍCULAS SÓLIDAS INJETÁVEIS (BIOPLASTIQUE) NA CORREÇÃO DE CONTORNO DOS TECIDOS MOLES - ARQUIVOS CATARINENSES DE MEDICINA (IMPRESSO) - 1994
     
  38. ANÁLISE QUALITATIVA DISCENTE DO ESTÁGIO EM MEDICINA COMUNITÁRIA NA VILA AUGUSTA, VIAMÃO-RS - REVISTA HCPA (UFRGS. IMPRESSO) - 1989
     
  39. Plano de ação do Corpo de Monitores do Departamento de Cirurgia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Produção Relevante REVISTA HCPA (UFRGS. IMPRESSO) - 1988
     
  40. Resseção Hepática das Metástases do Carcinoma Colorretal - REVISTA HCPA (UFRGS. IMPRESSO) - 1988
     
  41. Abscesso Hepático por Ascaris Lumbricoides - REVISTA HCPA (UFRGS. IMPRESSO) - 1986

 

Bioética na Cirurgia

A difícil encruzilhada das decisões na COVID-19: como a deontologia implícita à Medicina Baseada em Evidências pode nos ajudar a entender as diferentes atitudes dos médicos nesse momento?

Miguel Prestes Nacul, TCBC-RS
[1] - Hospital de Pronto Socorro, Serviço de Cirurgia Geral - Porto Alegre - RS - Brasil
[2] - Colégio Brasileiro de Cirurgiões, Membro Titular - Rio de Janeiro - RJ ? Brasil
Marco Antônio Azevedo
[3] - Universidade do Vale dos Sinos, Faculdade de Filosofia - São Leopoldo - RS - Brasil
[4] - Hospital de Pronto Socorro, Clínica Médica - Porto Alegre - RS - Brasil

 

In itself, every high degree of circumspection in conclusions, every skeptical inclination, is a great danger to life. No living being might have been preserved unless the contrary inclination ? to affirm rather than suspend judgment, to mistake and fabricate rather than wait, to assent rather than to deny, to decide rather than be in the right ? had been cultivated with extraordinary assiduity.
(Nietzche, Aphorism 111, Gay Science 1882)

 

Uma das dificuldades que os médicos enfrentam nas decisões clínicas é como lidar com as evidências científicas de que dispõem, ou com a falta dessas. A pandemia de COVID-19 teve enorme impacto nas rotinas dos diferentes serviços de saúde, incluindo a área cirúrgica, que exigiram mudanças de protocolos assistenciais. Recomendações e dados de literatura científica permanecem limitados para orientar tratamentos em pacientes cirúrgicos, nesse período de disseminação comunitária do contágio1-3. Muitas condutas cirúrgicas bem estabelecidas passaram a ser questionadas em função de situações diretamente relacionadas à infecção pelo SARS-COV-2 e de acordo com medidas de saúde pública necessárias ao combate da pandemia1-3. Existem preocupações significativas e realistas com relação ao risco de disseminação viral durante procedimentos cirúrgicos1,4-6. Isso incluiria pacientes infectados e assintomáticos portadores. A proteção dos profissionais de saúde é fundamental, pois se colocam em risco alto de contaminação, sendo recursos únicos e não renováveis durante uma pandemia5. O uso desnecessário de equipamentos médicos em tempos de escassez, no fornecimento e na comercialização, deve ser evitado para preservar recursos como ventiladores, equipamentos de proteção individual (EPI), medicamentos etc. A destinação de leitos hospitalares prioritariamente para atendimento a doentes afetados pela pandemia torna-se muito importante com o aumento significativo do número de internações hospitalares. Por essas razões, cirurgias eletivas foram adiadas. Tratamentos de pacientes oncológicos foram adaptados, com postergação da cirurgia em prol de tratamentos medicamentosos. Mesmo cirurgias de urgência, como apendicites agudas e colecistites agudas, foram consideradas para tratamentos clínicos medicamentosos, baseados em estudos observacionais de séries de casos com níveis baixos de evidência7-9. A Society of Gastrointestinal Endoscopic Surgeons (SAGES) alertou, em suas recomendações quanto à resposta cirúrgica à crise de COVID-19, sobre o risco de contaminação viral durante videolaparoscopias e a necessidade de seleção adequada dos pacientes10. A exposição à fumaça cirúrgica pelo uso de eletrocirurgia ou bisturi ultrassônico e o uso de gás sob pressão em uma cavidade (pneumoperitônio de CO2 em procedimento videolaparoscópico) são fatores que potencialmente aumentam o risco de contaminação4,11. A decisão pelo uso de técnica aberta, minimamente invasiva ou não invasiva (tratamento clínico) deve se orientar por evidências científicas, mas sem esquecer tanto a segurança do paciente como a de toda equipe cirúrgica, e as alternativas possíveis de tratamento para cada doença e paciente nessa situação peculiar4,11,12.

Os três princípios que regem a Medicina Baseada em Evidências (MBE)13 são:

1. A busca da verdade é mais bem cumprida ao examinarmos a totalidade das evidências, ao invés de selecionarmos apenas uma amostra seleta dessas, sob o risco de não ser representativa e certamente menos precisa do que a totalidade;
2. Nem toda evidência é igual. Um conjunto de princípios pode identificar evidências mais confiáveis;
3. Apenas evidências não são suficientes. Tomadores de decisões avaliam os riscos e benefícios de estratégias alternativas de manejo no contexto dos valores e preferências dos pacientes.

Em situações de pouca evidência disponível, é natural que tenhamos de lidar com informações sistematicamente mais frágeis, provisórias e suscetíveis a vieses. Muitas vezes são essas evidências frágeis que compõem "a totalidade da evidência disponível" no momento. A interpretação dogmática da MBE poderia nos indicar que não temos razão para tomar condutas que não estejam amparadas em evidências fortes (revisões sistemáticas de estudos controlados, ensaios clínicos randomizados e estudos de coorte bem delineados). Esta conduta implicaria precaução exagerada, a qual pode acabar em inação em situações de conhecimento ainda nascente ou insuficiente.

Outra concepção considera que há o dever de oferecer aos pacientes o que a experiência indica como melhor alternativa. Em situações de gravidade e urgência, excessos de cautela podem pôr em risco a saúde ou até mesmo a vida dos pacientes.

Na atual pandemia de COVID-19, observamos confronto entre esses dois extremos. Representantes de ambos os lados criticam-se mutuamente e, ao que parece, há razões fundamentando ambos. Uma análise sobre as conclusões deontológicas implícitas extraídas da lógica da MBE auxilia nesse momento difícil. Podemos dispor os níveis de evidência discriminados pelas diferentes abordagens sobre a MBE em dois grandes grupos:

1. Estudos científicos que conferem sólida força epistêmica a conclusões clínicas sobre tratamentos;
2. Estudos científicos que conferem força epistêmica menor ou mais fraca.

De maneira geral, os estudos concluem que determinado tratamento é eficaz, efetivo ou eficiente (custo/efetivo), isto é, beneficiam o paciente, ou concluem que o tratamento é prejudicial. Outros estudos são inconclusivos (frequentemente não publicados). Tratamentos que possuem evidências fortes de benefício devem ser oferecidos aos pacientes, assim como tratamentos com evidências fortes de prejuízo devem ser negados ou não recomendados. E quanto a tratamentos embasados em evidências mais fracas (estudos sujeitos a vieses, observacionais não controlados, séries de casos ou meras opiniões de especialistas baseadas em experiência clínica)? Teríamos o dever ou apenas a permissão de utilizá-los?

Tom Beauchamp e James Childress, em seu influente livro de Bioética Principles of Biomedical Ethics14, sustentam que existem tratamentos médicos obrigatórios, tratamentos opcionais (não proibidos, nem requeridos), tratamentos que vão além do requerido (tratamentos supererrogatórios) e tratamentos proibidos (em que é obrigatório não tratar). Considerando que tratamentos médicos não devem ser empregados sem o consentimento do paciente, podemos inferir que identificamos:

a) Condutas médicas obrigatórias;
b) Condutas médicas contraindicadas ou proibidas;
c) Condutas "opcionais".

Dado que os pacientes têm o direito de recusar ordens médicas, é dever dos médicos indicar a eles tratamentos que consistem em alternativas terapêuticas cujos benefícios são garantidos por estudos de maior valor científico, que Beauchamp e Childress denominaram de "tratamentos obrigatórios"14. No entanto, como os médicos não devem exercer sua autoridade para limitar o direito do paciente de decidir livremente sobre sua vida, ou seja, sobre o que pode mudar seu bem-estar, é conclusivo que os médicos tentem convencer coerentemente seus pacientes, oferecendo-lhes todas as informações relevantes que apoiem suas recomendações. E como é possível que o paciente tenha motivos pessoais para recusar o tratamento (incluindo os motivos não médicos), é razoável que o médico também apresente alternativas que sejam capazes de se adequar a seus valores e preferências. Essas alternativas, no entanto, devem ser claras quanto aos respectivos fundamentos científicos, isto é, sobre como cada alternativa é apoiada por bons estudos. Além disso, explicação adequada à capacidade de compreensão de cada paciente a respeito do que se entende por ?maior? ou ?menor? suporte probatório deve ser oferecida.

Dessas distinções, extraímos a seguinte deontologia: cometemos imprudência se realizamos tratamento com evidências fortes de ser prejudicial ao paciente; cometemos negligência se deixarmos de oferecer ao paciente tratamento embasado em evidências igualmente fortes. Todavia, há muitas situações em que temos de decidir com base em evidências de menor qualidade. Nesses casos, não se aplica a conclusão de que, se deixarmos de oferecer algo tido como prejudicial por estudos fracos, agimos em imprudência, ou que agiremos em negligência se deixarmos de prescrever algo ainda não fortemente embasado em estudos fortes ou consagrados. A opinião de especialistas baseada apenas na experiência pessoal ou em relatos de casos, mesmo que amparada em teorias fisiopatológicas plausíveis, não é suficiente para forçar o médico a ter de seguir determinado protocolo. Por outro lado, segue razoável a conduta daqueles que, diante de uma emergência como a pandemia de COVID-19, por exemplo, e da falta de evidências fortes em favor de tratamentos clínicos ou cirúrgicos nesta situação, não adotam posição de excessiva cautela. Também se mostra adequado e honesto com o paciente propor opções terapêuticas baseadas em explicações fisiopatológicas, estudos in vitro e estudos observacionais ainda que metodologicamente limitados, mas, sob certo parecer, promissores.

Estamos, portanto, em um contexto em que pairam dúvidas e divergências para as quais não é possível recorrer a consensos ou evidências científicas sólidas, o que não deve nos impedir de tomar decisões que nos pareçam as mais sensatas e recomendáveis. Como a dúvida não será dirimida (ao menos não em curto prazo), precisamos diante dessa agir com determinação e tolerância. Em um momento como esse, poderemos ter de oferecer a nossos pacientes alternativas terapêuticas com benefício potencial ou provável, muito embora as evidências ainda não sejam fortes ou conclusivas. Além disso, nessa fase de incertezas, nossa responsabilidade de avaliar caso a caso é ainda maior. Quando há evidências fortes, conseguimos nos amparar em protocolos e decidir (nem sempre da forma mais judiciosa e particularizada) convictos de que, em situação de erro, nossa decisão não poderá ser considerada errada do ponto de vista ético. Mas, quando as evidências são discutíveis e há emergência grave, temos de ser minuciosos na avaliação de cada situação clínica específica. Nessas circunstâncias, é ainda maior a nossa responsabilidade de decidir em conjunto com o paciente (shared decision-making). O que vale para um caso, pode não valer para outro. Um paciente de 90 anos com apendicite aguda e COVID-19 positivo, por exemplo, expõe uma situação de difícil decisão. Um protocolo único não servirá para nos garantir a decisão certa, nem eticamente correta (operar versus tratamento clínico; cirurgia aberta versus videolaparoscopia; anestesia geral versus regional). Nessa situação, ao optarmos por não operar o paciente, poderemos ser responsabilizados por dano eventual mais do que por sucesso. Mesmo assim, não devemos temer decidir. Por outro lado, não se pode dizer que erram os que preferem oferecer ao paciente apenas tratamentos já consagrados ou fortemente comprovados.

A manutenção da ameaça da COVID-19 contribui para a tomada de decisões clínicas e cirúrgicas complexas. Essa tomada de decisão deve levar em consideração não só as evidências científicas disponíveis, mas também a exposição e o bem-estar dos pacientes e dos profissionais de saúde e, por último, a conservação de recursos materiais. Os riscos e benefícios de cada decisão devem ser calculados no ambiente limitado da COVID-19. Aceitar e tolerar nesse momento é um caminho para termos unidade na diversidade da medicina em tempos de pouco conhecimento seguro.


REFERÊNCIAS

1. Correia MITD, Ramos RF, Bahten LCV. The surgeons and the COVID-19 pandemic. Os cirurgiões e a pandemia do COVID-19. Rev Col Bras Cir. 2020;47:e20202536.
2. COVID-19: Nota do CBC/SBCO/SBOT sobre suspensão de cirurgias eletivas. 2020 Mar 28.
3. Ramos RF, Lima DL, Benevenuto DS. Recommendations of the Brazilian College of Surgeons for laparoscopic surgery during the COVID-19 pandemic. Rev Col Bras Cir. 2020;47:e20202570.
4. Morrell ALG, Tustumi F, Morrell-Junior AC, et al. Laparoscopic or robotic intraoperative management to minimize aerosol dispersion: Adaptations to the context of the COVID-19 pandemic. Rev Col Bras Cir. 2020;47:e20202558.
5. Ngaserin SH, Koh FH, Ong BC, Chew MH. COVID-19 not detected in peritoneal fluid: a case of laparoscopic appendicectomy for acute appendicitis in a COVID-19-infected patient. Langenbecks Arch Surg. 2020;405(3):353-5.
6. Khan MF, Dalli J, Cahill RA. Gas Aerosol Jetstreams from Trocars during Laparoscopic Surgery- A Video Vignette. Colorectal Dis. 2020 Jun 24. doi: 10.1111/codi.15215. Online ahead of print.
7. Aminian A, Safari S, Razeghian-Jahromi A, Ghorbani M, Delaney CP. COVID-19 Outbreak and Surgical Practice: Unexpected Fatality in Perioperative Period. Ann Surg. 2020;272(1):e27-e29.
8. Zheng MH, Boni L, Fingerhut A. Minimally Invasive Surgery and the Novel Coronavirus Outbreak: Lessons Learned in China and Italy. Ann Surg. 2020;272(1):e5-e6.
9. COVIDSurg Collaborative. Mortality and pulmonary complications in patients undergoing surgery with perioperative SARS-CoV-2 infection: an international cohort study. 2020 Jul 4;396(10243):27-38. Epub 2020 May 29. Erratum in: Lancet. 2020;396(10246):238. Epub 2020 Jun 9.
10. SAGES Recommendation Regarding Surgical Response to COVID-19 Crisis [Internet]. March 19, 2020. Available from: https://www.sages.org/recommendations-surgical-response-covid-19/. Acessado junho 2020.
11. Mowbray NG, Ansell J, Horwood J, Cornish J, Rizkallah P, Parker A, et al. Safe management of surgical smoke in the age of COVID-19. Br J Surg. 2020 May 3:10.1002/bjs.11679. Online ahead of print.
12. Vigneswaran Y, Prachand VN, Posner MC, Matthews JB, Hussain M. What Is the Appropriate Use of Laparoscopy over Open Procedures in the Current COVID-19 Climate? J Gastrointest Surg. 2020;24(7):1686-91.
13. Guyatt G, Djulbegovic B. Evidence-based medicine and the theory of knowledge. In: Guyatt G, Rennie D, Meade MO, Cook DJ. Users´ guides to the medical literature: A manual for evidence-based clinical practice. 3rd ed. Chicago, New York; JAMA/McGraw-Hill Education; 2019.
14. Beauchamp TL & Childress JF. Principles of Biomedical Ethics. 7th ed. Oxford: Oxford University Press; 2012.